quinta-feira, 24 de junho de 2010

Van Gogh

Diretor: Maurice Pialat
Duração: 158 min
Ano: 1991

Acabo de desligar a tv após quase duas horas de filme. E depois, claro, de ver todos os créditos e de ouvir as músicas que os acompanham (mania, quase um tique!).  Confesso que as duas horas não voaram e que até arrisquei alguns olhares furtivos para o relógio. O ritmo do filme é lento e se você não conhece muito da vida do artista é provável que não veja aonde o filme quer chegar, nem aonde chegou.

Bom que se diga que o filme não tem o objetivo de ser didático, nem tampouco de trazer aos espectadores a biografia do artista. Antes disso, o diretor quis trazer uma abordagem diferente sobre uma época em específico do pintor, fugindo assim do caminho traçado pelas demais obras que o retratam. Para quem já viu as demais, perfeito, acho que só acrescenta. Para quem não as viu (meu caso), o jeito é fazer o caminho inverso e correr atrás delas. Um dos filmes que estou louca pra ver é "Sede de Viver", de 1956. Não deve ser lá tão fácil de baixar, mas papai cinéfilo vai receber a incumbência de procurá-lo.

A obra retrata os dois últimos meses da vida do pintor, quando se muda para Auvers-sur-Oise, vilarejo perto de Paris, durante o qual fica sob os cuidados do Dr. Gachet. O médico é um amante da pintura, motivo pelo qual possui um certo remorso com o destino por não ter lhe dado um talento inerente. De qualquer forma, esse fator une médico e paciente, estreitando-se relações. O filme, ao mesmo tempo que mostra a genialidade do artista, mostra também um Van Gogh problemático, com dificuldades para se relacionar, extremamente crítico e com um humor voraz. Mostra também seu lado boêmio e por que não dizer extravagante, retratado pelas suas idas a Paris, pelas visitas aos bordéis, pelas danças. Outro foco do filme é a relação do artista com seu irmão, Theo, que o sustentava. Por sinal existe um livro que reúne as cartas trocadas pelos dois neste período: "Cartas a Theo". Ainda não o li, mas já entrou para a lista de 2010.

Aqui cabe deixar registrado o anacronismo observado no dia a dia do pintor, que em alguns momentos não tinha sequer o que comer, enquanto que hoje seus quadros são verdadeiras relíquias, cujos preços vêm acompanhado de váários zeros.

Um ponto alto do filme é a fotografia e, por sinal, li em algum lugar que elas teriam tido influências das obras de Renoir e Monet.

Os cortes do filme é que me deixaram com um pé atrás e me deixaram com um crédito para colocar na lista dos "pontos baixos". De fato, a transição entre as cenas às vezes faz com que nos percamos, e algumas coisas ficam sem explicações aparentes (claro, para aqueles que não conhecem a fundo a biografia de Van Gogh). Até mesmo no final, quando comete suicídio, confesso que a princípio não caiu a fixa que ele próprio tinha se dado um tiro. Claro, era informação óbvia, afinal de contas ele é um ícone artístico e não um personagem para o qual se pode criar o final que se deseja. Pelo fato de Pialat ter querido retratar por um ângulo nunca retratado, até mesmo nestes pontos cruciais ele foge do óbvio.

No mais, o filme é bom e vale a penas ser visto, mas vale o aconselho de dar ao menos uma breve pesquisa sobre o ícone antes. O ideal mesmo é assistir aos outros filmes antes, que retratam sua vida de forma mais completa, para daí sim conhecer uma fase mais específica. Mas é isso, já que não fiz desta forma, meu plano agora é ver os demais e depois rever este.

Antes de dar o ponto final a este post, cabe ainda fazer um comentário sobre esta primeira foto que coloquei abaixo. Nela está o pintor com a filha do Dr. Gachet. Se não a mencionei antes é porque creio que ela é um dos instrumentos utilizados pelo diretor para explicitar a personalidade conturbada de Van Gogh. Ela, entretanto, possui brilho próprio. Feminista, corajosa, autêntica e forte. Gostei dela desde a primeira cena em que apareceu. O jeito como fala, como se impõe. Um misto de mimo e de rebeldia motivada pelo conservadorismo e puritanismo da época. O pai, muito embora fosse um liberal, não o era quando se tratava da própria filha. Comum até mesmo nos nossos dias. 

Ponto Final.




  

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