segunda-feira, 30 de maio de 2011

A Casa Verde - Mario Vargas Llosa

VARGAS LLOSA, Mario. A Casa Verde; tradução de Ari Roitman e Paulina Wacht. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.

Título original: La Casa Verde
Ano de publicação: 1967

Uma pequena mudança no blog para agregar uma paixão que não tinha por quê ser deixada de lado. Na verdade, foi minha primeira paixão artística. Surgiu aos 5, 6 anos de idade quando lia Ziraldo (As viagens de L, O Menino Maluquinho, Uma professora muito Maluquinha) e Monteiro Lobato (colação inteira que ganhei de presente da mamãe), passando por Jostein Garden, Maurice Druon, José Mauro de Vasconcelos (Meu pé de laranja lima), Adelaide Carraro, J. K. Rowling (claro!), deentre tantos outros autores que marcaram a minha vida. Sim, se penso em uma fase de minha vida, lembro de um livro. Os livros são minha terapia, meu lazer e minha paixão.

Pois bem: ao livro, agora! Em primeiro lugar, devo dizer que esta experiência literária foi graças ao meu namorado Toni, que me deu o livro de presente de Natal. Populismo do amor, pai? =) Não fique com ciúmes! kkk ...

A Casa Verde foi o segundo romance de Llosa, precedido somente pelo primogênito A cidade e os cachorros (1963). É um romance ousado, para não dizer ambicioso. Como a maioria dos seus livros, a história se passa no Peru. Se trago esta informação, não é porque se trata de um mero dado geográfico, mas porque o país é mais do que o espaço onde se passa a história. Posso dizer que o Peru, e mais precisamente, Piura e Iquitos, são personagens da história. Para se ter uma idéia, um mapa da região marca o início do romance.

Talvez o breve apanhado que é delineado atrás do livro crie expectativas acerca de uma história diferente. É que lá é citada apenas uma das várias histórias que se entrelaçam no livro: a da primeira Casa Verde, criada por Dom Anselmo. Traduzindo: um puteiro que é criado na cidade de Piura, quando esta ainda era uma pacato vilarejo. Confesso que imaginei, à primeira vista, se tratar de um romance pitoresco ambientado todo no ambiente do puteiro. Mas o romance é muito mais rico.

Llosa vai além da luxúria e dos desejos humanos. Nas 404 páginas podemos enxergar um retrato nú e cru daquela região: as missões de colonização dos "selvagens" (nativos da região, os pagãos), a máfia dos traficantes de latex e couro, índios aguarunas, huambisas e shapras, a urbanização de Piura e Iquitos, e, claro, o choque entre a população conservadora e toda aquela panacéia de vida.

Tudo isso surge de uma forma, digamos, nada simples. As histórias se entrelaçam de forma desordenada no tempo e no espaço. Você lê uma coisa para só depois entender o porquê. Nos parágrafos se misturam diálogos, pensamentos e lembranças. É um ritmo quase cinematográfico. Esta característica teve inspiração, segundo o próprio Llosa admite no prólogo do livro, nas leituras de William Faulkner.

Para quem leu Travessuras da Menina Má e amou sua leitura, deixo logo o aviso que em A Casa Verde a coisa é bem diferente! Nada de história linear e diálogos bem arranjados. Mas, claro, é um romance muito mais elaborado e profundo. Saio desta história como se tivesse passado uma aventura na Amazônia, quase sinto o cheiro da selva e por pouco não vislumbro no horizonte a famosa Casa Verde.


Recomendo a leitura acompanhada de tempo. Isto porque é um livro que se deve mergulhar de cabeça e ler rápido. Não foi o meu caso, admito. O perigo da falta de tempo é se perder na história. Ainda bem que consegui me encontrar! Valeu a pena... o livro está um pouco castigado, tendo recebido até um inusitado banho de mar, mas com certeza foi muito vivido.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Howl

Diretores: Epstein e Friedman
Ano: 2010




Howl retrata uma fase do poeta Gingsberg, após o lançamento da sua obra homônima - Howl, quando foi acusado de obscenidade. Na verdade o processo foi movido contra o dono da editora que o publicou e o filme se desenrola entre os diálogos no Tribunal, um relato do próprio Gingsberg acerca da sua obra, seguida de reflexões sobre a repercussão da mesma, e cenas da sua própria vida. Entre estes pontos, partes de Howl são declamadas, seguidas de animações que transpõe a letra escrita para a linguagem visual.

Sem sombra de dúvidas, as animações merecem um destaque especial. O trabalho foi de Erick Drooker, que em parceria com os diretores Esptein e Friedman, deram ao filme um toque surreal, ouso dizer.



Gingsberg foi um dos expoentes da geração Beat norte-americana, fruto de uma sociedade que queria ser perfeita, esmagando as ambivalências. Mas estas, uma hora ou outra acabam vindo à tona, e com ferocidade. No caso de Gingsberg, sua homossexualidade foi o centro da sua pluralidade e, por isso, seu grito. Talvez em virtude isto sua poesia tenha uma conotação tão sexual, por ter sido o ponto de ebulição da sua divergência.

James Franco como Gingsberg também fez um excelente trabalho, principalmente nas cenas em que faz as reflexões sobre a obra. Parece que estamos de frente com o poeta, a pensar cada palavra dita, refletindo, sem roteiro.

No mais, vale o destaque para o fato de ser a primeira ficção dos diretores Esptein e Friedman, diretores do documentário The Celulloid Closet, de 1995.