quinta-feira, 17 de junho de 2010

A Língua das Mariposas


Direção: José Luis Cuerda
Duração: 96 min.
Ano: 1999

Já falei no primeiro post a respeito da minha predileção com relação aos filmes espanhóis e sobre o meu atual vício no que diz respeito à Guerra Civil Espanhola (por sinal acabei de adquirir um romance sobre o tema: "O Retorno", de Victoria Hislop). Como dito, mais um filme que retrata este período, sob uma perspectiva bastante diferente do anterior.

O filme não é novo, é de 1999, e foi o meu primeiro filme do diretor José Luis Cuerda. Confesso que me apaixonei pela linguagem, pelo enfoque e inclusive pelas músicas, cuja trila sonora foi assinada por Alejandro Amenábar. 

A Língua das Mariposas se passa no período anterior à ascensão de Franco, quando os republicanos ainda estavam no poder. Apesar deste fundo histórico, entretanto, a maior parte do filme se concentra na relação entre o garoto Moncho e o seu professor Don Gregório.

Moncho é um garoto de 7 anos que os pais decidem que ele deve começar a estudar. O garoto, alimentado pelo que já ouvira a respeito dos professores, fica apavorado com a idéia, certo dos métodos violentos dispensados aos alunos. Como escapatória, tem a idéia de fugir para a América, já que não precisava de escola, já sabia ler!

Seu primeiro dia de aula não ajuda a melhorar sua imagem sobre a escola, já que, apavorado, é alvo de piadas dos demais alunos, e acaba por fazer xixi nas calças, quando então resolve fugir da classe e da Espanha, rumo à América. Sua fuga não vai adiante, claro, já que não se trata aqui de um filme de aventura ou ficção. Acaba sendo encontrado pela família no bosque tarde da noite. O professor, entretanto, não desiste do aluno, vai até a casa de sua família pedir desculpas pessoalmente e tentar convencê-lo a retornar às aulas, garantindo que nunca em sua vida acadêmica teria batido em um aluno.

Moncho confia em Don Gregório, e não tinha como ser diferente. O professor, interpretado por Fernando Fernán-Gomez, é pessoa plácida, calma e um democrático em essência. Cria-se daí uma relação peculiar entre professor e aluno, sendo mágico ao espectador observar o êxtase com que Moncho incorpora cada conhecimento passado por seu professor, bem como a paixão com a qual esse conhecimento é passado pelo mesmo. Será este o segredo do ensino? Terá a paixão de quem ensina o poder de motivação de quem aprende?

O contexto político sobreleva-se no dia a dia daquela pacata cidade, por mais que aos olhos do garoto nada daquilo fizesse muito sentido ou sequer tivesse importância. O pai de Moncho é Republicano e ateu. Sua mãe é católica, mística e mostra-se sempre confusa com as idéias do marido. Don Gregório também é republicano e ateu, mas ao contrário do pai de Moncho, ele exterioriza suas ideologias e faz delas seu norte de vida. Liberdade, inclusive dentro de classe.

O filme tem seu desfecho com a eclosão da Guerra Civil, trazendo consigo tudo de pior na essência do homem: medo, egoísmo, covardia. Tudo é destroçado, senão fisicamente, mas socialmente. Mostra-se então o poder destrutivo da guerra, capaz de transformar o belo em terror. É pavoroso observar como o medo amordaça e destrói a personalidade. A cena final é triste, lacerante. Mas para mim Moncho nunca acreditou naquelas palavras que fora forçado a dizer. Li em seus olhos a tristeza de ver seu amado professor condenado e a promessa, através do brado daquelas palavras por ele ensinadas, de que tudo que fora ensinado, nunca seria esquecido.

Para mim um diálogo em especial marcou. Ao presentear Moncho com um livro, Don Gregório diz: "Nos livros nossos sonhos se refugiam para não morrer de frio". E não é verdade? 

E com relação às cenas, além da final, que obviamente é tão triste quanto marcante, outra que me chamou a atenção pela beleza foi a que o irmão de Moncho, que toca saxofone em um banda, finalmente consegue tocar plenamente, com paixão, quando descobre a verdadeira paixão pela garota chinesa. Lindo.

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